Ler: Paixão Eterna

novembro 22, 2010

Analisando um Quadro: "Impression: Soleil Levant"


O quadro acima foi pintado pelo mais célebre pintor impressionista, o francês Claude Monet (1840-1926), em 1872, sendo considerado, com toda justiça, uma das obras primas do artista e do movimento e o responsável, em grande parte, pela popularização do nome "impressionismo", bem como das características da pintura impressionista. Vou tentar fazer aqui a minha modesta contribuição para a popularização do conhecimento básico acerca dos elementos e detalhes que tornam essa obra tão genial e admirável.

Tipo de Quadro: Óleo sobre tela.

Localização: Museu Marmottan, em Paris.

Tema

O objeto retratado é uma cena do nascer do sol no porto de Le Havre, na França, tendo, em primeiro plano, um pequeno barco que se desloca nas águas do Rio Sena, em segundo plano, o estaleiro do porto, onde se veem outros barcos e algumas chaminés e, em terceiro plano, o céu iluminado pelo Sol de aurora. Esse tema foi escolhido porque Monet percebeu que o deslocamento das águas, o reflexo da luz solar no espelho do Sena e as imagens turvas próprias da passagem da escuridão para a luz criavam o motivo perfeito para a utilização da técnica, que Monet vinha aperfeiçoando, de mistura das cores sobre a tela e de sobreposição de tons criando o efeito de distorção e movimento.

Técnica

Como a obra inteira prima pela originalidade na técnica de pintura empregada, vou me limitar a comentar apenas alguns aspectos técnicos mais importantes.

Algumas são características gerais da pintura impressionista. Os desenhos não têm contornos, porque há um deslocamento de foco visual do desenho para as cores: Em vez de desenhos preenchidos com cores, têm-se cores justapostas que formam, apenas para o olho humano, um desenho.

A relação de contraste entre desenho e cor e entre tom claro e tom escuro, que dominava a pintura tradicional, é substituída pela relação entre cores e tons complementares, de modo que o tipo e a intensidade de contraste dirige o olhar para a perspectiva que o pintor quer obter.

Além disso, Monet não usa cores previamente obtidas pela mistura de tons na palheta (a chamada mistura técnica), mas sim os sobrepõe na tela, deixando para o olho a tarefa de misturá-las (mistura ótica).

Uma estratégia interessante é que, como Monet havia deixado o Sol em terceiro plano e muito próximo do meio da pintura, ele teria dificuldade de fazê-lo desempenhar o papel de fonte a partir da qual toda a cena fosse iluminada, mas contorna essa dificuldade servindo-se do efeito reflexo sobre o céu e sobre a água para criar uma iluminação clara que vem de cima e uma iluminação escura que vem de baixo, num belíssimo lance de criatividade.

Outra bela sacada é o uso de tonalidades muito próximas para mostrar a visão dos barcos e chaminés do estaleiro à luz da aurora e a imagem dos mesmos barcos e chaminés refletida na água, literalmente "mostrando" uma metáfora, como se dissesse "a visão dos objetos à luz da aurora os faz parecerem imagens de si mesmos refletidas na água".

Também o recurso de representar a figura humana apenas por uma silhueta insinuada entre as sombras mostra a intenção de não diferenciar entre homem e natureza, entre criação e construção. Isso aproxima a visão da manhã com a visão da infância, uma espécie de olhar ingênuo ou inocente que mantém as coisas indiferenciadas e dissolve todo conflito na bela unidade da contemplação, como se Monet dissesse que a visão que é capaz de perceber a verdadeira unidade das coisas é a visão dos inícios, ali quando as luzes não estão ainda totalmente acesas, ali onde a aurora ainda não é dia e nenhum dos vícios e das diferenças veio ainda à tona.

Se é verdade que esse momento dura apenas um isntante antes de perder-se, é verdade também que cada novo nascer do Sol é uma nova oportunidade de vivê-lo e de entesourá-lo na memória. É um dos motivos pelos quais sou tão apaixonada por esse quadro.

Por enquanto é só. Há muito mais para dizer sobre essa obra-prima, mas por ora será apenas essa a minha contribuição, reinaugurando o blog depois de tanto tempo sem vir por aqui. Espero que tenham gostado e que se sintam agora um pouco mais tendentes que antes a admirarem esse belo quadro de Claude Monet.

7 comentários:

Débora Aymoré disse...

Linda, nossa, que legal a sua postagem. Não conheço nada de impressionismo e agora sou um pouco menos ignorante, graças à sua ideia de popularizar um pouco este conhecimento artístico. Abraço!

Linda Cavalcanti Lobato disse...

Obrigada, amiga! Foi uma postagem acessível? Tentei não falar de detalhes técnicos que exigissem algum conhecimento preliminar sobre técnica de pntura, sobre luz, sobre perspectiva e sobre relação entre figura e fundo. Isso acabou tornando a postagem muito mais curta do que eu queria e ainda fiquei com receio de que não totalmente útil! Por isso foi ótimo receber o seu comentário gentil. Beijos!

Débora Aymoré disse...

Eu acho que consegui entender. Mas, é que eu realmente não conheço nada de nada sobre telas e técnicas etc. Gosto de alguns pintores em particular e realmente fico embevecida (quase hipnotizada) por alguns quadros. Vou lhe dar um exemplo desses quadros de que gosto: http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://1.bp.blogspot.com/_IE3nd9CVMVM/TBKwqCwoNOI/AAAAAAAADoY/Lhzteb2SArc/s1600/Jacques%2BLouis%2BDavid,%2BThe%2BDeath%2BOf%2BMarat,1793.jpg&imgrefurl=http://sedesmoronoouseedifico.blogspot.com/2010/06/vida-feita-de-detalhes.html&usg=__66TPF-M_Q4XJE9CS6tRe18OG4Z8=&h=481&w=463&sz=39&hl=pt-br&start=278&zoom=1&tbnid=W6RzKV-uLbRblM:&tbnh=145&tbnw=150&prev=/images%3Fq%3Drembrandt%2Bdeath%26start%3D236%26um%3D1%26hl%3Dpt-br%26biw%3D1259%26bih%3D603%26output%3Dimages_json%26tbs%3Disch:11%2C6309&um=1&itbs=1&ei=EqP-TL2vIsGs8AbCsOCyBw&biw=1259&bih=603&iact=rc&dur=156&oei=BqP-TLOuD4WClAeqiLCjCA&esq=13&page=14&ndsp=22&ved=1t:429,r:4,s:278&tx=59&ty=52

Débora Aymoré disse...

Puxa, não sei se pegou direito o link... Então é o quadro Marat de Rembrandt.

PS: Adorei o novo layout do blog!

Linda Cavalcanti Lobato disse...

Amiga, fico contente com o seu interesse pelas artes plásticas. O quadro a que você se referiu e para o qual deixou um link, Marat (1793), é na verdade da autoria do neoclassicista francês Jacques-Louis David, e não do holandês Rembrandt, que já nem estava mais vivo à época em que ele foi pintado. Mas é um quadro admirável, claro. Se quiser, posso dedicar uma postagem a ele também em sua homenagem. Beijos!

Linda Cavalcanti Lobato disse...

Pensei que a Alessandra e a Fernanda também viriam ler e comentar...

Débora Aymoré disse...

Linda, obrigada e desculpe a ignorância. Então, acho que o meu erro reforça a necessidade da postagem! Beijo.